O Aikido como prática é uma escolha individual que reverbera em todas as relações que a pessoa estabeleça, voluntária ou involuntariamente. Não há como escapar das nossas intenções e das nossas motivações.
No tatame o/a praticante fica diante dos seus medos, ansiedade, desejos e resistências .
Quando ao receber um ataque para que possa realizar uma técnica o/a praticante tem a oportunidade de olhar para si, a sua reação quando se sente provocado, testado ou criticado.
O tatame é um espelho do cotidiano.
Não é diferente fora do tatame.
No dia -a dia lidamos com situações diversas que nos provocam e evidenciam o poder do nosso o nosso ego, no qual nos apoiamos para nos diferenciar : a vaidade, a hipocrisia, a falsa generosidade, mas também com dimensões que desconhecíamos de solidariedade, empatia, carinho, amor, gratidão e coragem.
O treino nos dá a oportunidade de olhar para essas reações, inconscientes que acontecem na maioria das vezes de forma automática e que acabam se transformando nas respostas que oferecemos ao mundo - à família, trabalho, afetos e desafetos.
Lidar com seriedade - sem tensão – mas com honestidade no reconhecimento das nossas atitudes é sem dúvida alguma um presente que o Fundador, Morihei Ueshiba nos oferece pelo Aikido e que, graças ao reconhecimento dessa graça muitos professores -senseis - no mundo todo gratamente repassam às custas de sacrifício pessoal imenso, mas com profunda alegria a alunos e alunas que vislumbra a possibilidade de saberem mais sobre si mesmos, a respeito de si mesmas.
Enquanto houver uma só pessoa encarcerada na ignorância, no medo, na ira, no desespero estamos todos igualmente presos.
O Aikido é um caminho. Não é o único nem aquele que se oferece a todas as pessoas como opção para a autodescoberta.
Para a prática do Aikido é essencial - como em todos os caminhos que nos propomos percorrer - compromisso, dedicação, seriedade e alegria. Exige aceitar que cada ganho depende em grande medida da disciplina, dos esforços conscientes e feitos com gratidão. A recompensa é além do ganho individual a possibilidade de contribuir para o bem-estar da comunidade . Como a pedra que é jogada no lago e ao cair na água desenha círculos em que se expande, assim o Aikidô. O movimento de cada praticante deve se expandir de maneira positiva nas relações com todos.
Aikido não é caminho para todos. Tampouco é uma solução mágica que nos transforma em seres superiores. Como humanos, e em movimento, vamos errar.
O Aikido nos ajuda a ter coragem para reconhecer e para tentar mudar, para não nos acomodarmos nas desculpas em que apontamos o outro como responsável pelos infortúnios das nossas escolhas.
Aikido também reconhece que temos limites. No treino aprendemos que tem o outro com suas características, seus sonhos, desejo e intenções e que é preciso estar atento. E que a atenção é uma conquista diária e permanente.
Além do desafio da busca de si mesmo o Aikido, pelas características da prática exige disposição física. O corpo é um instrumento do treino, mas não fator que limita a prática. Entretanto, é essencial cada qual reconhecer até onde vai a própria capacidade de expandir seus gestos.
O uso da energia quando aprendida - e é um dos objetivos do Aikido, colocar cada um em contato com própria energia vital – o ki - se sobrepõe às limitações do próprio corpo.
Ono sensei ao 94 anos com prótese de quadril e com o peso da idade continuava ensinando no tatame e praticando. O Fundador saiu do tatame para a cama de hospital, já acometido de da doença que o matou, e no leito de morte, treinou.
O Aikido não é uma prática teórica. Um conjunto de explicações: é uma experiência. A experiência conduzida tanto mais profundamente quanto for o nível de consciência da pessoa que treina.
O meu convite à prática é também um convite à reflexão sobre a responsabilidade com que se percorre o caminho. Há muitas escolhas para a realização de si mesmo. O Aikidô tem exigências que nem todos estarão dispostos a cumprir. E isso não é um problema. O problema é escolher sem a consciência do compromisso.
Bom treino!
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