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  • Foto do escritorOlga Curado

Hora do adeus ao pavão


Somos um animal social. Nos últimos anos com o advento da tecnologia de conexão mostramos que podemos estar juntos e não estar presentes. Compartilhamos o mesmo ambiente, a mesma mesa de jantar, o mesmo banco de jardim, ligados nos nossos celulares, buscando obsessivamente nas mídias sociais se nos amam ou nos odeiam, e se estamos atualizados sobre os locais fascinantes visitados pelos amigos de nossos amigos e pelas comidas incríveis consumidas em restaurantes deslumbrantes.


São as pontes da tecnologia de conexão se transformando em barreiras, bloqueando a comunicação presencial , ao distanciar as pessoas e glamourizar o fato de elas estarem em algum outro lugar apenas acessível pelas câmeras fotográficas . O objetivo da tecnologia perde-se na vaidade do uso dela ao se tornar o espaço onde se cobiça viver as férias, as vidas perfeitas dos outros.


O COVID-19 da maneira mais cruel , brusca e imprevisível , além de nos debilitar a saúde e até mesmo sacrificar mortalmente alguns de nós, oferece a oportunidade de nos conectarmos em boa vontade para compartilhar e buscar soluções e apoio àqueles mais vulneráveis e necessitados se abandonarmos um pouco o nosso egolatrismo.

A comunicação tem um papel essencial quando nos confinamos ou praticamos o “distanciamento social”. Conectar, quando a recomendação evitar a proximidade física, pode parecer paradoxal. Não o é. Já vínhamos treinado isso como pavões. Agora o desafio é o de mudar o propósito das nossas mensagens. Do exibicionismo para a atenção.


Enquanto estivemos qual narciso deleitados , pavoneando-nos com a nossa própria imagem em selfies obsessivas, no deleite apenas havia lugar apenas para nosso umbigo. Agora o olhar precisa mudar de direção e a qualidade da nossa escuta ser revigorada . A começar pela nossa própria escuta , o que inclui nossos medos.


Olhar a nós mesmos, nos escutarmos naquilo que os ruídos externos – que nós mesmos provocamos – e aceitar o silencio, poderá apurar a maneira como nos dirigimos aos outros. Somos humanos, perecíveis e a nosso prazo de validade pode ser encurtado a qualquer momento como demonstra o COVID-19.


Estar em casa, com a mobilidade reduzida às necessidades inadiáveis, muitas vezes sozinhos e com a capacidade de consumir séries e notícias abarrotada, vai conter o frenesi compulsivo das falas desnecessárias. Vida e morte estão em jogo. Estão diante de nós, nos noticiários, a transitoriedade, a efemeridade, a imprevisibilidade indiscriminada, não num local distante. Não há distância para o vírus.


O que importa compartilhar será o que importa de fato, aquilo que faz sentido e é significativo para o outro . Aquilo que ajuda, promove, ajunta bem estar; aquilo que faz brotar alegria, que cria desejo de apoiar , de amparar , que extrai o melhor de nós para oferecer , aquilo que corroa as barreiras do egoísmo, pois a incerteza envolve a todos, não é seletiva. O que pode acontecer é ainda um mistério na sua extensão e impacto. Mas sobreviremos.


Muros bloqueiam a saída de quem está dentro e dificultam o acesso para que se entre; pontes facilitam o trânsito , superam abismos, rios e aproximam margens. A comunicação tem o poder de fazer as duas coisas – impedir as trocas ou facilitar a conexão. A pergunta que definirá a construção de pontes ou muros será: que benefício a minha palavra, o meu gesto vai gerar para o outro? Se nenhum, que nos calemos. Se nenhum, que usemos o silencio para buscar o que pode auxiliar e ao encontrar, compartilhar.

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