O sábio caminha às margens do lago acompanhado do discípulo quando vê um peixe saltar dando voltas no ar e então mergulhar. Ele diz:
- Como o peixe está feliz!
E o aluno, imbuído do espírito crítico, duvida :
- Como o senhor sabe, o senhor não é um peixe.
E o mestre então:
- Como você sabe? Você não é eu.
O grande desafio da comunicação é perceber o outro naquilo que temos em comum. Na dimensão em que podemos nos conectar e transferindo sentimentos, ideias e crenças e que esse conteúdo chegue como imaginamos sentir, pensar e acreditar, ao outro.
O grande desafio é estar aberto sem ter todas as respostas. Se você é um peixe eu nunca vou saber, e talvez nem mesmo você. Por que , afinal de contas o que é ser um peixe?
No treino de Aikido olhamos para a pessoa que, seguindo as orientações do sensei, o professor, se lança na nossa direção com a intenção de desferir um golpe certeiro, intimando-nos a responder mas, sem causar dano, criando uma nova situação em que o ataque desapareça e surja algo novo.
Como aceitar a perspectiva do outro se definimos as regras do certo e do errado a partir do que enxergamos olhando do nosso canto no mundo? É muito difícil como na estória dos seis cegos e o elefante em que cada um descreve o elefante tocando numa parte do corpo do animal e cada qual tem certeza do que é o bicho porque tocar num pedaço dele acreditando tocar o todo...
É fácil jurar que você não é um peixe porque eu sei o que é um peixe e olho para você e você não se enquadra naquilo que eu sei que é um peixe. Mas eu não sei tudo sobre peixes.
Lidar om cada um no seu contexto, com as suas referências e realidade é uma grande tarefa porque queremos naturalmente enquadrar o outro dentro daquilo que estabelecemos. E por conta , dizemos muitas vezes, o outro não sabe! Nós sabemos. Tudo.
O ensinamento no tatame é reconhecer a potência do outro, misturando-nos a ela, quando o movimento acontece na nossa direção, sem termos a intenção de controlar a outra pessoa, porque isso não será possível dentro da prática do Aikido, mas realizável pela violência. E o uso da força tem a função de aniquilar. Mas, se aniquilamos fica quase nada do outro a que nos possamos juntar.
As tentativas de definir, estabelecer um modelo do que deve ser dentro das relações interpessoais, causa dano enquanto regramos todas as condutas a partir daquilo que nos parece bem, excluindo o desejo e a visão que são diferentes dos conceitos que concretamos na nossa vida.
Eu não sei se você é um peixe.
Também não sei se eu sou um peixe.
Pode ser que eu seja um peixe.
E pode ser que não seja.
E que importância tem isso? Muita, se você acreditar que eu sou um peixe , tiver um anzol e achar que o meu lugar é na ponta dele.
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