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  • Foto do escritorOlga Curado

Agora é "depois do Carnaval"


Você tinha um projeto, lembra? Para depois do Carnaval. O Carnaval veio e já foi.


Você já tinha resolvido começar a dieta, terminar o namoro, arrumar o armário, escrever o livro, procurar outro emprego, negociar as dívidas e mais o que?


E você olha agora para a Quaresma. Tempo de penitência. De fazer o que foi procrastinado por conta da fantasia de que o calendário define o melhor momento para seguir com a decisão, na prática.


Marcar datas para começar, o que já poderia ter sido feito, é um jeito social de adiar, sem mostrar preguiça.

A preguiça é a preparação sem fim.


No tatame de Aikido há uma exigência no treino. Que as pessoas estejam atentas e preparadas para receber os ataques, de onde vierem. A qualquer momento, em qualquer velocidade e intensidade. É preciso lidar com esse ataque, no instante em que ele acontece. A preparação não quer dizer parar, cristalizar-se para agir depois. Ela se dá enquanto nos movemos.


Encontro pessoas que tem enorme habilidade em criar justificativas para continuar no emprego que não gostam, nas relações tóxicas que as martirizam, nas rotinas desgastantes que as atormentam à espera do” melhor momento” de “mudar as coisas”.


É o silencio obsequioso que esconde o que sente e o que quer, como se o não falar, o não agir , o não expor selasse uma paz verdadeira. Adiamento que espreme o desejo, mas não o mata. Apenas gera tensões disfarçadas em adestrada educação, nos gestos comedidos de uma falsa sociabilidade.


Para lidar com as escolhas o procrastinador, - você e eu - elaboramos listas que apontam as condições necessárias e ideais para o fazer. Esses requisitos são dispostos num cronograma que projeta sempre um momento distante, numa esperança secreta de que o tempo não passe. Que o Carnaval demore bastante para chegar.


As listas não encurtam nas mãos do preguiçoso. Cada item ticado é substituído por uma nova necessidade. A lista segue. É muito cômodo ficar no planejamento. Dá ilusão de que se está realizando o propósito. É propósito sem responsabilidade. A responsabilidade só se materializa na ação.


O medo cria as desculpas, querendo fazer crer se tratar da virtude da prudencia. E as desculpas são o disfarce da preguiça. São aquelas longas explicações, cheias de detalhes e racionalidade indiscutível, que descrevem as dificuldades para agir, são as justificativas sem fim. É o dar tempo ao tempo, como se o calendário tivesse o poder de tirar o veneno das relações, pudesse melhorar o humor do chefe ou pudesse trocar a sequência enfadonha do dia a dia por atividades gratificantes.


Condições ideais para se fazer o que a gente anuncia que fará só existem nas nossas cabeças, como o príncipe e a princesa encantados e perenemente encantadores. Momentos perfeitos sobrevivem em apenas alguns suspiros. Passam rapidamente. Nossos movimentos criam os próximos.


Na prática marcial além da atenção plena é preciso ter coragem. Seguir apesar do medo (e da preguiça). Nunca estaremos totalmente preparados para o que der e vier, mas é assim. É quando as coisas acontecem que as respostas são oferecidas. Para isso treinamos continuamente.


Na comunicação grandes hiatos da espera geram frustração e perda do contato , e o açodamento que atropela deixa evidente a falta de escuta.


Nos treinos de Aikido é comum que um praticante peça ao outro que ataque “direito”, ou seja, dentro das condições ideais para ele possa realizar o golpe. Na medida em que o praticante avança no aprendizado descobre que pode se adaptar a qualquer ataque. Isso é difícil. E muitas vezes dá errado. E pode dar certo também.


Nada é totalmente garantido, nem depois do Carnaval.

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